E é lançado o primeiro volume da antologia São Paulo Amanhã: Caos e Ordem. Organizado por mim, Nick Scabello, e com os talentos meus, de Ramona Magnos e de Eden Afton, sete contos explorando uma São Paulo futurista, decadente e punk, onde armamento e drogas militares são disponíveis a qualquer um com malícia o bastante para saber onde encontrar e crianças modificadas podem fazer o trabalho de esquadrões policiais inteiros.
São Paulo Amanhã nasceu de um conceito simples. Tecnologia barata sendo usada a favor de todas as classes sociais. E então, um passo para trás, como o ambiente lidaria com tanta tecnologia, desenvolvendo a questão social. Nada mais é o do que a resposta contra o futurista padrão da nossa época.
O nome “industrialpunk” foi usado então.
Um gênero punk, focado na revolta das classes, com o fator industrial de todos terem a capacidade de ter tecnologias que seriam, para nós no mundo real, caríssimas. As histórias teriam que se basear não apenas em como a sociedade responde à tecnologia, mas como a sociedade responde à sociedade com tal tecnologia.
A verdade é que São Paulo é uma cidade cyberpunk hoje em dia. Você só precisa prestar atenção nas notícias para notar isso. O que fizemos aqui foi ressaltar os aspectos tecnológicos desse ambiente, além de deixar ainda mais relevante a questão da batalha entre as classes sociais. Você lerá tanto sobre pessoas pobres quanto sobre pessoas ricas, e seus conflitos dentro do cenário.
(Quase) todos os contos desse volume são minimamente factíveis com o ambiente que nós vivemos hoje em dia, mas extrapolados para o máximo que eles podem chegar. Isso é São Paulo Amanhã, e isso é industrialpunk. Extrapolar o que existe. Toda a tecnologia usada nas histórias já existe, de certo modo, em algum lugar. A diferença é que aqui ela está extrapolada, barata e de um jeito ou de outro, mais perigosa.
Como quase todo paulistano, eu já enxerguei os alagamentos da Lapa, as luzes estouradas da Santa Cecília, os morros da Zona Norte. Bastava um pouco de lirismo, e foi isso que fizemos. Tornamos São Paulo lírica, ao mesmo tempo que desgraçada.