Todo jogador de RPG tem seu sistema do coração. Eu tenho o meu, você tem o seu, e quem está começando agora não vai demorar muito a encontrar suas predileções. A princípio, pode parecer uma questão superficial, afinal é “só” um conjunto de regras para determinar o sucesso ou fracasso das ações dos jogadores, certo? Obviamente não. O sistema é uma ferramenta fundamental na mágica que envolve uma partida de RPG, e que parte de uma pergunta muitas vezes negligenciada: que experiência eu quero viver?
Muito mais do que “que jogo eu quero jogar” ou “que história eu quero contar”, pensar o sistema é pensar como eu, jogador, quero me sentir construindo aquela história. Heroísmo, aflição, drama, paranóia, empoderamento, gargalhadas… Olhar para o RPG e suas infinitas possibilidades é como ir a uma daquelas sorveterias criativas, que possuem sabores tão inovadores que você não sabe por onde começar. Comecemos pelos mais populares.
Dados e mais dados
O Roll 20 (possivelmente a plataforma online para simulação de jogos de mesa mais usado do momento, com 8 milhões de usuários pelo mundo) libera dados sobre sua utilização a cada 3 meses. A versão mais recente divulgada foi em fevereiro deste ano e diz respeito ao último trimestre do ano passado. Entre essas informações, chama a atenção de imediato a imensa popularidade da versão mais recente de Dungeons & Dragons frente aos outros sistemas, tanto em quantidade de campanhas quanto de usuários, mesmo com o segundo colocado (Call of Cthulhu) contabilizando todas as suas edições em uma única entrada. Especular sobre os motivos dessa discrepância em favor de D&D 5E exigiria um artigo próprio, mas cabe aqui mencionar a bem sucedida combinação de um sistema pensado para ser simples e ágil, a própria história do jogo, uma boa estratégia de marketing e mecânicas voltadas para criar experiências heróicas, uma das mais poderosas e desejadas de todas.
Em seguida no ranking da popularidade, temos Pathfinder em sua primeira e segunda edições, Warhammer com suas guerras entre diferentes facções, World of Darkness (responsável pelos emblemáticos Vampiro: A Máscara, Lobisomem: O Apocalipse, Mago: A Ascenção e outros), D&D3.5 com seu público fiel, Star Wars (que dispensa explicações) e Starfinder (voltado para jogos de fantasia espacial).
Com bem menos adeptos, mas se destacando pelo crescimento relativo, alguns sistemas merecem a atenção de quem se interessa pelo assunto.
- Cyberpunk Red: com um crescimento de 75,13%, esse sistema foi ganhando seu espaço ao longo de todo o ano de 2020 e parece que vai continuar em ascenção este ano
- Chroniques Oubliées: um sistema D20 simplificado, disponível apenas em francês
- Year Zero Engine: criado a partir de “Mutant: Year Zero”, utiliza uma mecânica que encoraja os jogadores a se forçarem a situações de altos riscos com resultados proporcionalmente interessantes
- Das Scharze Auge: o sistema favorito na Alemanha, superando Dungeons and Dragons, existe desde 1984 e está em sua 5ª edição
- Cyberpunk 2020: vencedor do prêmio de Melhor RPG de Ficção científica em 1989, possui um sistema de combate extremamente letal e está tão vivo hoje quanto quando foi lançado
Parece que o fim do mundo e nossa atual relação com a tecnologia está refletindo em uma tendência a jogos estilo cyberpunk. Será?
Apenas a ponta do iceberg
Existem muitos sistemas a serem conhecidos, explorados, pensados e repensados. O Roll 20 não é a fonte de informação mais confiável do mundo, afinal é um parceiro oficial da Wizards of the Coast (empresa responsável pelo D&D) e não é o único simulador de mesa disponível por aí, mas é a melhor que temos. Há, no entanto, todo um oceano de sistemas ocultos dessa rede que nos trazem possibilidades de experiências incríveis, divertidas, terríveis, emocionantes, mágicas… Cada aventura é única, e vale muito à pena explorar todos os caminhos que o RPG nos oferece.
Não se acanhe. A sorveteria está aberta. Pegue uma colher e seja feliz.