Batman chegou aos cinemas no dia 03 de março com a proposta de explorar um lado mais detetive do herói. Em uma estética ao estilo “Seven – Os Sete Crimes Capitais”, o longa nos mostra o cavaleiro das trevas no início de carreira, cometendo erros e aprendendo com eles, sem deixar de lado elementos que amamos vindo de outras obras do homem morcego.
O roteiro é envolvente, logo no começo ele cria paralelos entre o herói e o vilão, paralelos que ao decorrer da trama se desenvolvem e mostram o quanto a existência do cavaleiro das trevas é também o ponto de partida para existência de seus vilões clássicos.
Para o papel do Herói de Gotham, o diretor Matt Reeves traz o ator Robert Pattinson, que apesar das polêmicas que envolveram sua contratação, consegue entregar um Batman emocional, focado, mas ainda inexperiente no seu segundo ano como combatente do crime.
A investigação atiça nossa curiosidade por respostas, a intenção é de ser um filme investigativo mas este Batman ainda não é o melhor detetive do mundo, precisando de ajuda em alguns momentos para conseguir desvendar algum enigma, mas outros se provando inteligente o suficiente para achar as respostas sozinho. O filme também traz subtramas interessantes nas suas quase 3 horas de duração, que entram em colisão com a investigação do homem morcego e seus próprios ideais, e criam uma Gotham complexa, cheia de segredos a serem revelados a cada vítima que o Charada faz.
Robert Pattinson dá vida a um Batman amargurado, raivoso, assim como seu Bruce Wayne que parece mais deprimido ainda carregando seus traumas, focado em sua vingança contra o crime, vingança essa que ao decorrer da trama cria paralelos com o arco de outros personagens como a Mulher Gato de Zoë Kravitz que tem seus próprios interesses na história, mas cria uma forte atração com o homem morcego sendo as cenas entre eles um dos pontos mais emocionais do filme e o Charada interpretado brilhantemente por Paul Dano.
O Charada também quer se vingar dos crimes de Gotham, mas ao estilo psicótico de John Doe ou o Assassino do zodíaco, sendo este último forte inspiração do diretor para criar o figurino do vilão, os demais coadjuvantes estão de acordo com a estética da obra e aparecem em pontos chave para ajudar no desenvolvimento da trama.
O excelente uso de closes no rosto dos atores nos coloca para sentir as dores que o protagonista carrega, sua troca de olhares com Selina mostra a preocupação e atração que sente por ela, e as conversas carregadas de sarcasmo com o Pinguim (Colin Farrell) e Carmine Falcone (John Turturro), deixa eles ainda mais odiáveis, tudo elevado pela direção de Matt Reeves que tira o melhor de cada um.
Com uma direção de arte forte, essa Gotham chuvosa lembra a Los Angeles de “Seven”, decadente e deprimida como se estivesse consumida pela maldade, assim como a fotografia do indicado ao Oscar Greig Fraser, que nos leva para os clássicos do cinema Noir, no bom uso de luz e sombras nas criação de cenas de ação e suspense, a fotografia cheia de luzes vermelhas e amarelas, dão esse tom de perigo em cada local.
A trilha sonora de Michael Giacchino é também um dos pontos altos do filme, com o uso de temas específicos para cada personagem, tendo como destaque o tema principal de Batman, o uso de violinos para a Mulher Gato que quando entra em cena junto ao herói mescla ambos os temas em uma trilha tocante que faz cair lagrimas, e claro, o excelente uso do Clássico católico “Ave Maria” transformado em uma trilha assustadora para mostrar as ações do Charada.
Como ponto negativo, colocaria a montagem do filme, a duração do filme não é um problema, todas as cenas são bem conduzidas e evoluem na história, o problema é que algumas cenas que tem como objetivo construir uma relação emocional entre um personagem e outro, me pareceram encurtadas e didáticas sem o mesmo engajamento que teve as cenas de investigação, e quando mais à frente no filme essas relações trazem alguma consequência trágica, o filme tem dificuldades de nos fazer sentir esse peso.
Concluindo, esse filme não entrega grandes novidades em relação ao herói, tudo que tem aqui já vimos em outros longas, mas a escolha de Matt Reeves de abordar um Batman iniciante, focado no lado investigativo, a utilização de referências ao cinema de Fincher, um universo vivo onde seus personagens tomam escolhas próprias que podem ajudar ou atrapalhar a investigação, tudo aliado a excelente fotografia e trilha sonora, fazem desse filme um dos melhores já feitos.
Na minha opinião só fica atrás da obra prima que é o Cavaleiro das Trevas (2008), mas com a quantidade de ganchos e a promessa de uma nova trilogia, tudo indica que esse posto pode ser tomado em breve.
Nota: 4/5