O Filho de Apollo Creed, volta as telonas para seu terceiro filme do universo Rocky Balboa. Agora sem as amarras narrativas aos longas do Garanhão Italiano, Creed 3 traz um Adonis aposentado, gerenciando a carreira de novos campeões como Felix Chavez (Jose Benavidez), ao mesmo tempo que lida com questões familiares como a saúde de sua mãe (Phylicia Rashad) e problemas escolares de sua filha Amara Creed (Mila Davis-Kent) que pelo visto, puxou muito ao pai.
Apesar das ocupações, Adonis parece lidar com tudo junto de sua esposa Bianca (Tessa Thompson), até a chegada de Damian Anderson (Jonathan Majors), um amigo de infância que vai até a academia de Adonis atrás de ajuda após sair da prisão.
Dame é o ponto de ruptura na vida tranquila de Adonis, os dois tem um passado difícil no reformatório e no decorrer do filme vemos que ainda existem rancores enraizados no coração dos dois que só poderá ser resolvido no Ringue. O filme é sobre esses dois, o que aconteceu com eles, o que eles se tornaram a partir de um evento traumático e como Adonis conseguira resolver isto, consigo mesmo e depois com o próprio Damian que carrega consigo muita dor e raiva.
E por falar em Damian, os antagonistas de Creed nos filmes anteriores sempre tiveram sua carga dramática pouco expressada pela falta de experiencia dos atores Tony Bellew (Rick Conlan) e Florian Munteanu (Viktor Drago) nesse quesito, que era compensado nas cenas de luta pela experiencia que ambos tinham como lutadores profissionais. Em Creed 3, as coisas são totalmente diferentes, Jonathan Majors é um excelente ator e Damian tem uma carga dramática mais bem escrita que os vilões dos outros dois filmes, esse é sem dúvidas o melhor e mais humano antagonista dos filmes Creed.
E nas cenas de luta o ator não perde nada, colocando toda sua dor e raiva em cada golpe, Michael B Jordan não fica para trás e juntos, trocam socos e farpas, que levam a olhares expressivos e uma direção sensível que escolhe apagar o público e os deixar sozinhos no ringue enquanto se enfrentam.
Não é sobre títulos e prêmios, é sobre culpa e perdão e os roteiristas Keenan Coogler e Zach Baylin sabem disso.
Michael B Jordan que aqui estreia na direção de longas, traz sua experiencia como ator e consegue arrancar interpretações muito convincentes e sinceras em cada interação. Destaque pra Majors, mas também para Amara Creed interpretada pela carismática Mila Davis-Kent, que por mais que não traga nada novo a narrativa, da continuidade a história de Adonis e Bianca.
O cineasta sabe como conduzir a história, e tem a humildade de não deixar os holofotes somente no seu personagem, deixando que todos tenham seu momento, como Phylicia Rashad que aqui ganha um papel mais relevante como a mãe super protetora Mary-Anne Creed, que nessa sequência enfrenta problemas de saúde.
A Direção só perde na sequência de treinamento, principalmente comparada aos outros 2 filmes. Falta emoção e energia aliados a trilha musical para construir aquele momento catártico ja esperado, que aqui não acontece. Mesmo eu gostando da música de J. Cole, não sei se foi a melhor opção ou a direção que não foi tão criativa nesse momento. Por sorte a catarse vem com o embate final entre Creed e Dame.
As escolhas de planos em alguns diálogos se destacam e têm força nos momentos climáticos do filme, mas nem só de momentos chave um filme é construído e nas transições entre atos e construção da narrativa fica claro a falta de inventividade na decupagem.
A desculpa que os roteiristas criaram para que um cara que acabou de sair da prisão, enfrente um lutador profissional por um título, simplesmente não cola, e sim já foi utilizada duas vezes antes na franquia, mas com truques de roteiro bem melhores do que os usados aqui. Fora que eram personagens que não tinham o fator prisão ligado ao nome deles. Em comparação a construção que leva para a luta final foi até aceitável, mas poderia ter sido executada de forma diferente de o vilão ligar para tv em rede nacional.
A fotografia de Kramer Morgenthau, mantem os traços do segundo filme que mesmo não sendo tão autoral como a do primeiro Creed, consegue nos colocar na ponta da cadeira a cada início de confronto.
Os closes e câmeras lentas já utilizados nos filmes anteriores, retorna nesse filme em pontos específicos, como a leitura de corpo e técnica que um lutador tem de outro oponente. E o close utilizado em golpes baixos e precisos, cria tensão e torna a luta mais perigosa e imprevisível por sabermos que a qualquer momento pode sair um golpe ilegal que pode custar caro para quem o recebe. Truques de câmera que lembram bastante desenhos como Dragon Ball (algo que o diretor já confirmou ter se inspirado na hora de filmar as lutas do filme).
Diante disso, apesar de Creed 3 não ser melhor que seus antecessores, o filme é tão bom quanto. A história de Adonis, ganha novas camadas para além de Rocky e Apollo. A franquia não precisa ficar presa ao passado mesmo possuindo suas referências pontuais, o que importa aqui é somente Adonis e como ele vai aprender a lidar com seus traumas, o filme pode se perder em alguns pontos, mas no final o saldo é muito positivo.
Nota 4/5
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