Saudações, criadores. Estamos na reta final (quem diria?) da série Criação de Cenário. Hoje falaremos sobre como expandir o seu cenário de uma maneira coesa e como aplicar a arte da literatura no seu meio.
Antes de mais nada, vale a pena dizer que essa matéria teve três textos diferentes em que eu resumia vários tipos de jornada do herói. Aqueles textos nunca vão ver a luz do dia porque eles são chatos demais e uma repetição de tudo que você pode encontrar por aí de um jeito bem melhor explicado.
A literatura serve para contar histórias. Considerando que você tem um cenário montado até agora, falta-lhe a vida. As lendas que as culturas contam entre si. Exemplos de como elas podem interagir. Principalmente se tratando de RPG, a expressão já clássica “mostre, não conte” fica ainda maior. Pode ser interessante ler sobre todas as maravilhas de um cenário num manual organizado, mas é muito melhor aprender vendo personagens interagirem com aqueles fatos.
Quem começou lendo Criação de Cenário já com o intuito da literatura já teve ter em mente o quanto é melhor para imersão em um mundo de RPG que o mestre entenda como o cenário reage aos aventureiros. Sendo assim, o mestre pode ler a literatura do cenário para ter esse conhecimento.
O melhor jeito de começar a escrever literatura para o seu cenário é encontrar pessoas prontas para jogá-lo. Monte uma mesa de RPG curta, nem que seja apenas uma oneshot, e jogue de fato o seu jogo. Jogar o cenário pela primeira vez é emocionante e assustador ao mesmo tempo. Feito isso, você pode transformar a aventura em um conto, para começar. Pode escrever um conto sobre a história passada de um NPC ou até mesmo de um personagem de jogador.
Contos são a melhor maneira de começar a escrever um cenário, pois são mais simples que grandes romances, e você pode apresentar os contos aos jogadores, que muito provavelmente vão adorar (vide Ataque a Meletis).
Jogar no seu cenário também te força a responder perguntas dos jogadores que talvez você não tenha preparado. Eles podem perguntar como é o burgomestre da cidade em que eles estão, e você terá que inventar algo. E é nesse momento que você expande seu cenário mesmo sem saber. É muito importante que você anote as informações que você criou durante a mesa, pois aquilo agora será o que o cenário é. Se você disse que o burgomestre é um anão loiro de olhos amêndoa com um tapa-olho trabalhado em joias, deve garantir que outras pessoas entrando na mesma cidade conhecerão o mesmo burgomestre. Isso expande seu cenário.
Pessoas e reinos “normais” são descartáveis. Ninguém liga para “Millgard, o Reino dos Homens Comuns”. Mas “Winterfell, o Planalto Invernal” carrega muito mais poder. Definir seus ambientes com poucas palavras já o bastante para carregar todo o ambiente. Ninguém se lembra de um anão burgomestre entre todos os burgomestres, mas lembrarão do tapa-olho de joalheria. Mas também deve se tomar cuidado. Se cada personagem importante for bizarro, sua história pode parecer uma galhofada, e isso não é bom. Pense em adjetivos marcantes, e não em características definidoras. Um pode mancar, outro pode ter uma tatuagem na cara, outro pode ter uma postura poderosa.
E o mais importante: leia.
Ler fantasia fantástica obviamente parece ser o melhor concelho, mas nem sempre isso é real. É bom, sim, que você leia sobre o cenário que você está criando, mas nunca se limite a isso. Leia o que não precisa fazer sentido, e adapte. Um livro sobre uma exploração espacial pode te dar ideia de um tipo de monstro abissal. Um conto urbano te situa em como descrever ambientes populosos. Se você analisar bem a ficção cientifica, vai notar que é apenas mais um gênero da fantasia, só que menos fantástica. Qualquer coisa em um livro de ficção cientifica pode ser replicada em um livro medieval fantástico.
A literatura não é exclusiva. A escola nos forçou durante anos a lermos coisas que não gostávamos. Mas ler é o que torna o criador um bom criador. Mesmo que você não pretenda se desenvolver na literatura, e quer apenas criar um cenário interessante, você deve ler. Se você ler vinte páginas por dia, em um mês você consegue ler pelo menos um livro (existes os tijolos de exceções, mas vocês me entenderam).
E não apenas procure literatura. Jogue jogos com histórias envolventes, veja filmes premiados ou não. Se encha de história, pois é assim que se cria algo. Você entende vários conceitos de várias coisas que você vê, e então junta isso em algo novo.