Tempos atrás, publiquei uma matéria sobre criação de personagens e como fazer de sua história algo único e que também propicie ganchos para o narrador. Bom, estou participando de uma mesa no mundo de Belregard, lá na Twitch do Cultura à Milanesa e o mais divertido é que não é o mesmo sistema que está nos livros, mas sim o Cave Cane, um sistema com pegada mais narrativa, mas isso é assunto para uma outra matéria (se quiserem mais informações as mesas ocorrem todas as terças-feiras, às 20h ao vivo na Twitch, posteriormente são lançadas no YouTube). O que queria apresentar é como fiz para montar a história do personagem baseado na ficha que montei.
Para quem não conhece o sistema, vale a pena conferir: é simples, rápido e prático. A distribuição de pontos é supersimples e só usamos dados de 6 faces. Abaixo vou deixar a história do personagem para que vocês entendam que aproveitei cada dado na ficha para elaborar algo interessante.
Yurik Sverd
Um homem de armas, disciplinado no treinamento militar e feroz no campo de batalha ou pelo menos assim o era. Quando houve a cisão de Viha, Yurik foi para o lado do verdadeiro Rei quando convocado pelos Lobos de Radu, seguindo o caminho do seu pai, Adrik, e de todos seus ancestrais desde a origem do Clã Sverd.
Entre os membros e a família, a mistificação da figura real era natural, sempre foram os escolhidos para defendê-lo, mas o imaginário se desfez pouco tempo após sua convocação. Decepcionado pela hesitação do pai com relação ao filho traidor, Yurik passou a discutir com seus pares e com o próprio Radu, pois segundo suas crenças, nada é feito pelas costas e se há desavenças, elas precisam ser debatidas pela razão ou pelas armas, como sempre foi em Viha. Os jovens não conhecem mais os verdadeiros costumes que forjaram o povo livre e guerreiro, infelizmente essa contaminação se estendeu a realeza.
Tempos atrás sua morada fora atacada por antigos irmãos convertidos pelos ideais insanos de Fëdor e pervertidos pelos costumes de alguns tribunais corruptos. Yurik se lembra de cada jovem que pereceu perante o aço de sua espada, Feris, uma relíquia mortal passada de geração para geração, desde tempos incontáveis. Mais uma vez seu Clã fora lembrado nas tatuagens que remontam o terror de enfrentá-los face a face.
Jovens inconsequentes! Essas foram suas palavras na ocasião, talvez agora os entendesse um pouco melhor. É difícil servir um Rei covarde, mas traí-lo é o mesmo que abraçar a desgraça de seu caráter. Talvez os druidas de Borgata estejam corretos: os deuses querem o caos!
Mesmo com a história de seu clã e de sua linhagem, Yurik fora exilado após sucessivas discussões. Jamais tramaria algo contra o seu Senhor, contudo, estava feliz por não mais servi-lo.
Com um pequeno grupo de companheiros que compartilhavam de sua visão, enfrentou a cruel estrada para o norte, teve que lidar com assaltantes, feras e morte. Belregard é sem dúvida uma terra para os bravos, pois os fracos não conseguem sobreviver para contar histórias enquanto bebem com seus companheiros.
O caminho trouxe revelações sobre os mais jovens de seu Clã: alguns haviam se filiado ao príncipe traidor. Com os pés ainda na estrada, a sombra nublou sua visão e o ódio se fez presente, as elaboradas tranças de liderança foram desfeitas, o cabelo fora raspado e parte das tatuagens cobertas por suas indumentárias. Jurou enviar qualquer traidor que encontrasse para o Svarog e desconfiava que a maioria deles estavam em comunhão com a Mandíbula de Garmír. Por dias fora consumido, preocupando seus companheiros de viagem até que a sensatez pareceu retornar.
Em Rastov chegou 0apenas com Iuri e Bóris, os demais foram engolidos pela terra, afogados em seu próprio sangue. O ódio, a sede, a fome e o cansaço haviam lapidado suas faces e consumido parte de seus corpos.
Na castelania gelada os três receberam ajuda de uma nobre serva chamada Natasha, a mulher que Yurik desejou como nunca sonhou ser capaz desde a morte prematura de sua primeira e única esposa, Yeva. Contudo, o relacionamento era perigoso para se levar a frente e mesmo após a partida daquela bela mulher, seus pensamentos dividiam-se entre desejo e ódio.
Pouco tempo depois os três companheiros se separaram, mantendo o contato e a amizade, não sendo raro os seus encontros para beber e contar histórias, como ordena a cultura do seu povo.
Focado em si mesmo e em suas orações quando, Yurik conseguiu reencontrar seus ancestrais em espírito, renovando o seu ânimo e a sua moral. O início na nova terra foi duro, mas isso nunca foi tratado como algo ruim. Jamais deixara seu treinamento de lado: sua disciplina, pragmatismo, seus pertences e a história marcada em seu próprio corpo acabaram chamando a atenção de Yorek Isegundr. Hoje, Rastov é o seu novo lar e seus atuais companheiros de armas são tratados como irmãos.
Poucos são aqueles que reconhecem nas tatuagens a sua história. Embora alguns dos desenhos, como o lobo em posição de ataque denunciem sua terra natal, o símbolo de seu clã é pouco conhecido fora de Viha, exceto pelos mais velhos. Os renomados guerreiros do Clã Sverd se resumem a meia dúzia de pessoas e alguns jovens que se corromperam ao lado de Fëdor. Aqueles que reconhecem os símbolos lembram-se da disciplina, lealdade e ferocidade desses homens que sempre serviram aos desígnios da guarda real.
Essa história acabou me entusiasmando a escrever um micro conto, devo publicá-lo no Wattpad se a ideia for para frente. Quando comecei a montar a história, usei a ficha e a criatividade, mesclando uma à outra até dar origem a Yurik Sverd.
Existem sempre aqueles que falam que montar uma história só serve para que o mestre a use contra você, talvez seja relevante, mas substituiria “use contra você” para “use com a mesa de jogo”. É o momento de dividir a história e fazer com que aquele grupo conheça mais um pouco do personagem e participe no enriquecimento do cenário como um todo.
E aí, o que acharam?