As expectativas por Homem-Aranha: Através do Aranhaverso estavam nas alturas. Os produtores Phil Lord e Chris Miller junto com Avi Arad, Amy Pascal e Christina Steinberg tinham uma difícil missão, atingir ou superar a qualidade do primeiro longa que continua impecável, mudou a indústria com suas técnicas que misturam computação gráfica com desenhos a mão e com merecimento ganhou o Oscar de Melhor Animação em 2019.
Apesar das mudanças dos cineastas anteriores para Joaquim Dos Santos, Kemp Powers e Justin K. Thompson, nada mudou na estética de quadrinhos que definiu o primeiro longa, muito pelo contrário, evoluiu.
Ainda temos o universo do Miles como o conhecemos, e aquele design que simula páginas de HQs, com divisões de tela, onomatopeias pelas cenas, balões de pensamento e agora balões com informações sobre algum personagem ou item. Tudo isso agora também sendo levado a outros universos.
Foram criadas mais de 100 versões do homem aranha, e pelo menos 5 mundos ganham destaques, todos com vida e personalidade própria. Como o universo de Miguel O’Hara o Homem-Aranha 2099 que traz um estilo Neo-futurista e Mumbatan, uma mistura de Mumbai e Manhattan onde vive o herói Pavitr Prabhakar o Homem-Aranha Indiano.
Gwen Stacy, nesse longa ganha seu arco narrativo e é praticamente uma co-protagonista ao lado de Miles, seu universo é o primeiro que vemos e traz tons de lilás em uma estética que usa um simulador de aquarela e deixa o universo em um estilo impressionista, assim como mudando os tons de cor conforme as emoções da personagem. Os momentos de Gwen e seu pai são os mais emocionais e usam esse artificio com muita sensibilidade na troca de diálogos.
Assim como Miguel que é o arquétipo do antagonista que pensa estar fazendo a coisa certa, o que o leva em confronto com Miles em um arco interessante sobre salvar um em troca de não conseguir salvar todos, dilema esse que rodeia a maior parte das obras do homem aranha independente de quem esteja por baixo da máscara ou do universo adaptado.
Além da criação de cada universo com seu design específico, o filme se aprofunda no aranhaverso através da sociedade aranha, um local criado por Miguel O’Hara no seu próprio universo 2099. A sociedade aranha é um espetáculo de referências, para os fãs do personagem das animações, dos jogos ou até dos filmes, nada escapa de ser referenciado incluindo uma versão em Lego do personagem. O melhor de tudo é que essas referências estão dentro da narrativa e não tira o foco do que arco principal.
O filme guarda diversas reviravoltas e situações não exibidas nos trailers, o terço final é de ficar na ponta da cadeira esperando o que vai acontecer e quando encerra ficamos com a sensação de que teremos que esperar um ano pra ver a conclusão da trilogia, o filme não tem um final exato e sim um gancho episódico pra próxima parte, algo parecido com o que ocorreu em O Hobbit: A Desolação de Smaug para O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, quando o principal vai acontecer o filme se encerra.
Poderia ser um defeito que todas as pontas deixadas pelo longa nenhuma se fecha realmente, exceto pelo arco de Gwen e seu pai, mas o filme compensa levando a história até seu momento de maior tensão e concluindo com uma promessa de continuação para o ano que vem.
Agora o terceiro filme da saga tem uma missão ainda mais difícil, corresponder as expectativas e fechar de maneira digna e verossímil os pontos levantados nesse segundo filme e que nenhum foi concluído.
A trilha sonora de Daniel Pemberton continua impecável e sempre pontual com o filme, as músicas produzidas por Metro Boomin são um show a parte.
O trabalho de dublagem continua ainda mais impecável, com os atores dos filmes anteriores mais a vontade em seus papeis, destaque para Shameik Moore e Hailee Steinfeld que trazem mais química pra dupla protagonista e para o elenco novo, Oscar Isaac e seu Homem-Aranha que não faz piadas, Issa Era como Jessica Drew, uma Mulher-Aranha que serve de mentora para Gwen, Daniel Kaluuya como o Spider-Punk com sua estética que mistura impressões baratas com recortes de revistas ao estilo Punk Rock.
Jason Schwartzman merece um parágrafo próprio para um vilão que começa como um típico vilão da vez e ao decorrer do filme vai ganhando força e se tornando uma ameaça amedrontadora. O design do personagem parece um rascunho de desenho com traços e rabiscos, e alguns pingos de tinta que vão saindo do seu corpo e abrindo buracos para outras dimensões. O que no começo é usado como alívio cômico vai ganhando proporções maiores e nos deixa com a dúvida, como Miles irá vencer esse cara?
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso é um dos melhores filmes do ano sem dúvida. O filme deveria funcionar de maneira isolada, mesmo que possua ganchos para uma sequência como no primeiro filme, mas isso não diminui a qualidade dessa montanha russa de sensações que o longa nos oferece. Acredito que seja um problema a ser conversado em outra matéria, a dificuldade de Hollywood em lidar com filmes em duas partes, acompanhe o Blog da Taverna para mais detalhes sobre.