Pequenos Aventureiros é um projeto de RPG voltado para o público infantil. Mas ele tomou uma proporção muito maior do que a esperada, caindo no agrado também de adultos e adolescentes. O responsável pelo projeto é o José Noce, que contará mais detalhes sobre o jogo.
José, conte um pouco como surgiu os Pequenos Aventureiros.
A ideia dos Pequenos Aventureiros surgiu numa época em que eu estava sem grupo fixo. O grupo com o qual eu costumava jogar tinha cada um seguindo o seu rumo, muito por conta dos problemas da vida adulta. Outra complicação vinha do fato de que os clubes de jogos aqui de BH estavam passando por atribulações que também não permitiam reuniões regulares dos mesmos.
Então eu pensei cá com meus botões: “Acho que esse pode ser um bom momento pra apresentar o RPG para as novas gerações, pois a garotada é muito mais empolgada com as coisas e dispõe de muito mais tempo livre.” Com isso, comecei a reunir filhos de amigos e primos mais novos pra apresentar o RPG pra próxima geração.
Comecei essa jogatina usando o Kids & Dragons, do Igor Moreno e do Guilherme Nascimento. Mas logo as crianças bem mais novas também começaram a querer participar. Isso me fez pensar na necessidade de criar um sistema de regras mais amigável pra elas, que não dependesse da alfabetização pra ser entendido. Pois essa sempre foi uma das maiores barreiras para que crianças muito novas pudessem ingressar no nosso hobby. E que não deveria ser assim, já que pra mim quando uma criança já é capaz de entender uma História, ela já está mais do que apta para jogar RPG.
Recentemente você financiou seu jogo através do Catarse e está realizando uma segunda campanha de financiamento coletivo. Como foi montar a estrutura para a realização deste projeto?
Financiamento coletivo envolve muita ralação antes, durante e depois do projeto. O FC que eu realizei em 2017, do meu livro com dicas para narradores chamado “Vamos Pôr Ordem Nesta Bodega”! Me fez ver o quanto é preciso estudar para usar esta ferramenta de forma eficaz. É importante estudar outros projetos – principalmente aqueles parecidos com os seus – para entender aonde seus realizadores acertaram ou erraram. Outra coisa fundamental é inserção nas redes sociais, pois afinal só é lembrado quem é visto. Com elas, tenho toda a comunidade RPGística à distância de um clique. Então a atuação nas redes sociais é uma questão que não pode ser negligenciada. Você precisa apresentar o seu jogo no maior número de ambientes possível, não se restringindo a públicos apenas da sua localidade. E plataformas online, como o Discord por exemplo, facilitam muito nesse sentido. Eu também tento da melhor maneira possível participar do dia a dia dessas comunidades, pra não ser só mais um cara spamando conteúdo por lá. O que pra mim é um grande desafio, já que eu tenho que dividir atualmente o meu tempo entre essa inserção, a produção do meu jogo e a realização de outros projetos.
Poderia falar de mais coisas também fundamentais, como a produção em si, distribuição, parcerias, etc. Mas esses assuntos iriam fazer a entrevista ficar muito gigante rs.
Pequenos Aventureiros surpreendeu por trazer um público diferente além do esperado. Como foi a recepção de adultos e adolescentes, interessados nessa temática e nas referências que existem no jogo?
O Pequenos Aventureiros foi planejado inicialmente para crianças de 6 a 12 anos. Mas dentro já dos primeiros playtests, ele conseguiu abranger uma faixa etária um pouco maior, de 5 a 15 anos. Dai quando veio a pandemia, ficou mais difícil conseguir jogar com crianças muito pequenas, tendo que usar plataformas online. Então eu comecei a fazer mesas com públicos mais velhos, especialmente com quem tivesse interesse de levar o RPG pros seus próprios pequenos. E juntamente à isso, vi jovens em várias comunidades ingressando no mundo do RPG graças à conteúdos no Tik Tok. Eles queriam conhecer melhor o jogo, e eu tinha um jogo focado em iniciantes, então juntou o útil ao agradável hehe. Tudo isso também muito graças ao cenário que estou desenvolvendo, a Rincônia, que é aonde eu tenho ambientado todas as minhas aventuras até então. Esse cenário tem bastantes referências da minha própria infância, lá para os anos 80 e 90. Inclusive pretendo lançar em breve um livro falando mais sobre a Rincônia, além de uma série de aventuras dentro deste cenário.
E nesse ínterim, o Pequenos Aventureiros deixou de ter um caráter exclusivamente infantil pra se tornar um jogo família. Pois ele conseguiu agradar tanto aos mais novos pela novidade quanto aos mais velhos pela nostalgia.
Vamos falar um pouco sobre RPG. Para você, o que significa na sua vida e como chegou a se tornar um mestre de mesa?
Basicamente, minha vida se divide em antes e depois de conhecer o RPG rs.
Conheci o RPG em 95 juntamente com o meu irmão, graças à um amigo que narrou pra gente uma aventura de Dragon Quest. O meu irmão não achou a menor graça, e nunca mais jogou novamente. Já pra mim, foi amor à primeira vista! E desde essa época, eu já queria montar Dungeons, criar novas criaturas e tal. Sempre curti muito mais narrar do que jogar. Creio eu que seja mais ou menos pelo mesmo prazer que um cozinheiro tem ao ver as pessoas apreciando seus pratos. Gosto de criar jogos, histórias, e depois ver como as pessoas interagem dentro deles.
Com a informação rápida que temos graças à internet, quais são os obstáculos para trazer novos jogadores?
Hoje o maior obstáculo a meu ver é o acesso à informação. Atualmente, existe um ferramental RPGístico enorme e de fácil acesso. Temos jogos simples e gratuitos – alguns cabendo até mesmo num cartão de visitas – que podem praticamente ser impressos e panfletados em eventos. Temos plataformas gratuitas para jogar online, como Discord, Roll20, etc. Além de vários Bots e outras funcionalidades que facilitam a vida dos RPGistas dentro dessas plataformas, como roladores de dados, grids, mapas, miniaturas, Bots de música, de imagens, entre outros. O X da questão é fazer com que os iniciantes também conheçam todas essas possibilidades, coisa que não se ensina nos livros de RPG. Por um lado é possível hoje em dia jogar RPG gastando muito pouco ou mesmo nada. Mas por outro exige dominar uma gama bem maior de ferramentas do que antigamente, não bastando ler apenas um livro de regras e montar a ficha do seu personagem – aliás, agora as fichas também são quase todas digitais. E se os jovens em geral sequer sabem que todas essas coisas existem isso é ainda mais verdadeiro entre as juventudes em situação vulnerável.
Por isso se torna cada vez mais importante que a comunidade RPGística acolha e garanta um ambiente sadio e seguro para os iniciantes. É preciso orientar os novatos sobre o uso dessas novas tecnologias, já que sem elas é impossível jogar de forma segura durante a pandemia que assola o mundo atualmente.
Você é um Bárbaro que tem de sacrificar um dos seus companheiros para abrir a porta do Castelo. Você tem um Bardo, um Ladino e um Anão com problemas de humor e insônia mas é Clérigo. Qual você sacrificaria?
Sacrificava o Bardo sem pensar duas vezes kkkkkk!
Pra mim é a classe mais mal concebida do RPG. Os Bardos que se veem por ai nos RPGs quase nada têm a ver com os menestréis medievais, os filid celtas ou os skald vikings, que foram as suas fontes de inspiração. São só um amontoado de habilidades e poderes sem nexo entre si ou com a realidade.
E para terminar, deixe um recado para os nossos leitores da Taverna.
Primeiramente, gostaria de agradecer vocês pela paciência de terem lido esta entrevista até o final, pois eu sei que falo pra caramba kkkkkk. E segundo, gostaria de pedir para vocês darem uma força apoiando o late pledge do Pequenos Aventureiros no Catarse. Inclusive a campanha não visa apenas publicar o livro, mas também disseminar a prática do RPG entre nossas crianças e adolescentes como um todo. Por isso, a cada dez Apoios de um mesmo tipo no Catarse, um kit similar do jogo será doado à uma iniciativa ou causa social que use o RPG junto ao público infanto-juvenil. Então, além de levar o RPG para as suas próprias crianças, você também estará levando para muitas outras através da nossa Campanha Solidária. Segue o link do Catarse logo abaixo, assim como os contatos do meu Studio Macunaíma Games, para quem quiser tirar quaisquer dúvidas sobre o projeto ou ainda conhecer outros trabalhos meus. Valeu pessoal!
Catarse: https://www.catarse.me/pequenos_aventureiros_apoios_tardios
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