O que é Mago, a Ascensão?
Mago, a Ascensão é um RPG da White Wolf, a mesma empresa que produz Vampiro, a Máscara e Lobisomem, o Apocalipse, além de vários outros jogos no cenário Mundo das Trevas. Diferente dos outros jogos da empresa e do cenário, Mago recebe pouca atenção no cenário brasileiro de RPG, mas é definitivamente um dos jogos que melhor explora os conceitos do que é ser um “mago” e do que é a “realidade”. Os magos se dividem em Tradições.
Em Mago, a realidade é aquilo que cada personagem quer que ela seja. Você pode acreditar que a realidade é caótica e envelopada por uma ordem divina, e tocar o poder do divino para manipular o caos da realidade. Você pode acreditar que o mundo é um ambiente hostil, com monstros e feras, e que a magia é apenas mais uma peculiaridade da realidade. Você pode acreditar que o mundo é apenas uma ilusão da sua cabeça e que nada existe ao seu redor, além de seus pensamentos. Você pode acreditar que vive dentro de uma realidade simulada por um computador.
E a melhor parte é, que em mago, a realidade é o que você acredita que ela seja. Cada mago manipula a realidade de forma a construir, destruir, alcançar e limitar. O limite do poder de um mago está em sua criatividade e em sua competência com a mágicka, chamado dentro do jogo de Arete. Seu Arete desempenha as funções de execução da sua mágicka, e usando seus focos, os instrumentos pessoais para a manipulação da realidade, o mago faz o que ele quiser.
Cada Desperto – tradução do termo “Awakened”, usado para descrever alguém que manipula a realidade como um mago – enxerga a realidade de uma forma, e a maior parte deles contra diz uns aos outros. Mas isso não é um problema. As Nove Tradições Místickas abraçam vários tipos de paradigmas – isto é, visões de mundo – diferentes.
As Nove Tradições Místickas
Um conselho foi formado para garantir que Despertos pudessem se unir contra o avanço da Ordem da Razão, uma organização autoritária que desejava limitar a forma de se pensar sobre a realidade dentro do Consenso, uma realidade em que a magia não existe. Isso fez com que o Efeito Paradoxo se tornasse um problema para os Despertos espalhafatosos em seus paradigmas. Com a Ordem da Razão, magia não fazia mais parte do Consenso, e alguém fazendo magia gerava Paradoxo, uma carga negativa atrelada ao Desperto que pode ferir seu corpo, sua mente e até mesmo destruí-lo.
Vendo como a união seria a única forma de vencer esse inimigo, formaram-se as Nove Tradições Místickas. Cada uma abrangendo o que, na época, se via como os paradigmas mais clássicos. Com o tempo, tradições antigas foram sumindo enquanto novas tradições ganhavam espaço. Na última edição do jogo, lançada em 2015, as Nove são as seguintes.
Akashayana / Irmandade de Akasha
Os Akashayana, ou Irmandade de Akasha são originários da região entre a China e o Nepal e são a mais antiga das Tradições. Eles acreditam que seu corpo apenas é tão poderoso quanto sua mente, e que eles precisam evoluir o próprio corpo para abrigar a mente, porque a mente e a conjuntura são o seu maior poder. Eles não são ligados a bens materiais, pois isso atrapalha a conexão com o seu eu (se tem tanta coisa em volto do seu eu que não é você, vai ser mais difícil encontrar seu eu interior). Eles praticar artes marciais para aprimorar o corpo, na sua maioria Chinesas, mas a Tradição se espalhou para todos os lugares do mundo, se adaptando até para Boxe, Capoeira e Luta de Rua.
O estereótipo médio de um Akashayana é um monge shaolin que luta com as mãos limpas. Mas existem Akashayana em todos os lugares. Um mestre de um dojo beneficente num bairro carente, um professor de educação física de uma escola pública, um preparador de elenco de uma televisão local.
Sahajiya / Culto ao Êxtase
Os Sahajiya, também conhecidos como Culto ao Êxtase, que acreditam que a realidade é alterada pela percepção deles, e que alterar a própria percepção é o caminho para alterar a realidade. Eles dançam, cantam, fazem arte, fazem sexo, usam drogas, e a realidade se torna o que eles querem que ela seja. Eles olham para o próprio medo e o desafiam, sempre.
O estereótipo do Sahajiya é muito variado. Existem os drogados, que se injetam, fumam e cheiram pra poder manipular a realidade, mas são geralmente deixando de lado pelos outros da Tradição, assim como existem artistas, músicos, atores, que usam o poder da arte para alterar a vida dos outros e os mais esotéricos, ligados a Bruxaria do Caos, que usam do estado espiritual místicko para alterar a realidade de um jeito bruto.
Chakravanti
Os Chakravanti são magos que manipulam o ciclo da vida, o nascimento, a fortitude, o decaimento e a morte. Eles se veem como zeladores do Dharma, que é o destino que cada pessoa tem na roda da vida e da morte. Eles devem garantir que aqueles que precisam viver para completar seu Dharma vivam, e aqueles que precisam morrer para que suas ações não atrapalhem o Dharma dos outros morram. Muitos os enxergam como magos da morte, mas na verdade, eles são magos da vida de da morte, na mesma medida, pelo menos em teoria.
O estereótipo médio dos Chakravanti é um mago da morte, um necromante, um assassino silencioso, mas essa não é nem a maioria dessa Tradição. Muitos médicos, curandeiros espirituais e benfeitores estão entre os Chakravanti, auxiliando aqueles que tiveram o Dharma desviado por conta das adversidades. Mas é claro, existem os magos da morte, que buscam aqueles que fazem o mal para o Dharma dos outros e os eliminam da roda.
Verbena
Os Verbena são uma Tradição que uniu todos os principais bruxos pagãos. Por mais que não orem para os mesmos deuses, todos os Verbena cultuam a natureza, cultuam a vida inalterada pela humanidade, e é claro, cultuam os deuses antigos. A bruxaria clássica pertence aos Verbena, incluindo os famosos sacrifícios de sangue, feitos de animais que eles mesmo cultivam em sua maior parte.
O estereótipo médio dos Verbena é de um bruxo pagão que mata coisas em nome de seu deus na sua casa na floresta. Eles existem, mas o sacrifício é visto como algo antiquado pelos mais novos da tradição, e a vida na natureza é extremamente desagradável para muitos. A maior parte dos Verbena modernos vivem em locais simples, em cidades, e tentam manter a própria vida sustentável, e sua bruxaria discreta.
Adeptos da Virtualidade / Elite Mercurial
Os Adeptos da Virtualidade, ou Elite Mercurial, nem eles concordam sobre o nome ainda. São magos da tecnologia, usam a rede digital e dados para manipular a realidade. Muitos acreditam fielmente que a realidade é uma simulação de computador e que eles conseguiram acessar o código fonte. Outros acreditam que a realidade é mecânica como um computador, e que ajustando seus mecanismos digitalmente, pode-se afetar a própria realidade.
O estereótipo médio de um Adepto/Mercúrio é de um hacker que hackeia a realidade. E eles não fogem muito desse estereótipo, apesar de vários usarem a habilidade deles sobre a realidade para se tornarem fortes e rápidos, desafiando a realidade com seus corpos franzinos, além de cientistas da computação que criam do zero tecnologias novas que só eles conseguem compreender.
Sociedade do Éter
A Sociedade do Éter já fez parte da temida União Tecnocrata, a versão repaginada da Ordem da Razão, mas após desavenças sobre a manutenção do Consenso, o grupo se voltou para as tradições, que os receberam muito bem. Aqui, a mágicka e a ciência são a mesma coisa. Etéreos acreditam eu formas inovadoras para o uso da ciência e da tecnologia, inovadoras até para eles mesmos, considerando que cada um tem uma visão extremamente pessoal e específica de como sua tecnologia funciona, muitas vezes se negando a chamar aquilo de mágicka. Seja qual o nome que eles dão, membros da Sociedade do Éter se unem sob a ideia de que suas mentes não podem ser aprisionadas pelo paradigma do consenso e que existe muita ciência ainda não explorada para eles criarem.
O estereótipo de um etéreo é o de um cientista louco, criando bugigangas, como o Doc Brown de “De Volta Para o Futuro”, mas muitos usam suas tecnologias como recursos bélicos, com armaduras no estilo Homem de Ferro. Em suas fileiras se encontram até mesmo aqueles que não tiveram oportunidades e acabam vivendo em periferias, mas têm capacidades mecânicas impecáveis e construções pessoais impossíveis para um não desperto.
Ordem de Hermes
A Ordem de Hermes é responsável pela criação do dito Conselho das Nove Tradições Místickas. Dizem os registros esparsos que o primeiro mago a sofrer o efeito do paradoxo, gerado pela Ordem da Razão, executou um feito mágicko na frente de uma plateia e teve seu corpo destruído. A Ordem de Hermes se vê como líder das Nove Tradições, e muitas vezes são vistos dessa forma também. Esses são os magos mais tradicionais, e o que mais se espera quando se fala sobre mago, usando varinhas arcanas, palavras mágickas (enoquiano, para ser preciso), robes de feiticeiro e todo o misancene clássico. É claro que para eles, isso não é misancene, isso é a execução de antigas técnicas para o feitio da mágicka. Para eles, o domínio da Arte não vem de outros meios, como da tecnologia, da meditação ou de qualquer coisa externa a eles mesmos, e sim de dentro, e a técnica apenas serve para controlar o poder que vem de dentro.
O estereótipo de um mago hermético é o estereótipo de um mago medieval, que usa robes, joias, cajados e utensílios leves e mágicos. É claro que com a modernidade, esse estereótipo fica cada vez mais furado, com muitos magos herméticos se vestindo com roupas da moda, afinal, moda pode ser uma das ferramentas para alterar a realidade, mas ainda usando manoplas encantadas, cajados ou varinhas, porque algumas coisas são boas demais para mudar e todo cliché tem um motivo para ser cliché.
Coro Celestial
Facilmente confundidos como religiosos fervorosos e de mente fechada, o Coro Celestial está muito além disso. Eles acreditam em um criador de tudo, seja ele Deus, Yahweh, Alá, ou qualquer outra coisa. Entre suas fileiras, a crença no Divino em em Sua Graça carrega os poderes dos coristas, se conectando com o poder do Criador pela voz e pela música. Dizem eles que o canto conecta o fiel ao Senhor, por isso o nome “Coro”.
O estereótipo médio do corista é algo transitório. No início de sua história, muitos fizeram parte da Ordem da Razão, lutando contra as tradições vistas como “pagãs”, mas hoje em dia, com a união entre as tradições, a maior parte dos coristas é visto como um herético desviado da igreja, que não acredita mais nas convenções e nas assembleias corruptas, enxergando o poder do Divino em todas as coisas, não se limitando às igrejas, as quais a maior parte deles vê como mais prejudicial para a fé do que como algo positivo.
Kha’vadi
Quando as Nove Tradições se formaram, os Kha’vadi se responsabilizaram por contabilizar as tribos menos desenvolvidas à visão das outra tradições. Isso, infelizmente, tornou os Kha’vadi uma tradição que amalgamava todas as culturas místicas não-brancas como se fossem todas uma coisa só. Entretanto, apesar de serem forçados a um mesmo grupo, aborígenes de todos os lugares do mundo conseguiram encontrar em si uma união: a conexão com os espíritos. A ligação espiritual, a presença e estudo de entidades espirituais faz parte dos Kha’vadi e faz parte de quase toda cultura aborígene.
O estereótipo Kha’vadi é algo complexo. Existem aborígenes em todos os lugares do mundo. Ser definido por não ter sido diretamente colonizado pelo homem branco não é extremamente específico, apesar de relativamente raro. Os Kha’vadi podem viver em suas comunidades afastadas ou em centros urbanos, podem cultuar os antigos espíritos em uma fogueira ou usando meios digitais para se conectar com as essências espirituais pela Rede Digital (que é um zona espiritual por si só, mas falemos disso em outro momento).
