A maior parte dos jogos que se baseiam no sistema D20 (que é o sistema de RPG mais usado atualmente) possui uma habilidade / atributo principal chamado “Carisma”. O seu valor de Carisma representa, em termos de jogo, a força da sua personalidade, simpatia, postura e até mesmo beleza física. Teoricamente falando, o personagem com maior pontuação de carisma é seria o mais amado do grupo, tanto pelos outros personagens de jogadores, quando pelos NPCs.
E isso não é o que acontece.
Antes de entrar no assunto, um parágrafo de bastidores: Fiquei muito tempo pensando se isso seria uma Dicas de Mestre ou não, mas optei por não colocar esse tipo de classificação aqui pois esse texto não é apenas para a intepretação de NPCs, mas dos PCs também, os personagens dos jogadores. Basicamente, essa semana não vai ter matéria para leigos, como costuma a ter normalmente, mas relaxa que semana que vem eu volto a falar de gigantes.
Voltando ao assunto:
O Carisma alto deveria significar que as pessoas gostam de você, e muitas vezes isso é demonstrado pelo mestre na atitude de NPCs perante o seu personagem. Mesmo que seja simplesmente um número maior na hora de rolar, você tem sucessos baseados no carisma mais comumente por conta do número alto. Mas mesmo assim, muitas vezes o personagem carismático não é o favorito do grupo em si.
Isso se deve ao fato da intepretação de um personagem carismático as vezes ser estressante de se lidar. É divertido ver o bardo sorrindo para as meninas da taverna, mas é irritante ver ele tentar pegar qualquer personagem bonito que passe próximo dele. Ou talvez até pior, ser alvo dos charmes!
Nem todo mundo fica confortável com seu personagem recebendo investidas românticas de outra pessoa que está na mesa. É claro, a ação de ser divertida se usada de maneira interessante, se os jogadores possuem uma amizade ou se simplesmente acham a relação interessante.
Vários adversários usam o carisma junto de magias para seduzir ou convencer personagens. Isso é válido porque essa ameaça faz parte do poder de várias criaturas. Fora magia, nunca deixe um personagem de jogador ser seduzido ou convencido por um resultado de dados. PCs são diferentes de NPCs, e essa é uma dessas diferenças. Nem todo jogador quer que seu personagem goste dos flertes do personagem galanteador ou seja convencido de uma ideia que ele discorda, e isso deve ser respeitado. Vale dizer também que se o personagem do jogador com carisma alto quiser seduzir outro PC com o uso de magia, esse jogador talvez devesse ler a minha matéria de amanhã (Dicas de Mestre – Comportamento na Mesa).
Justamente por não deverem ser seduzidos por dados, personagens de jogadores não tem motivos para gostarem do personagem de carisma alto. O carisma é ingrato: você gasta parte dos recurso de criação de personagem para possuir um bom valor, mas esse valor não quer dizer muita coisa com outros PCs. Mas então, como refletir o carisma alto dentro do grupo de jogadores?
Carisma não quer dizer apenas sensualidade e retórica. Carisma é personalidade, postura, dialética. O personagem carismático pode não conseguir seduzir outros jogadores, ou convencê-los de que ele está certo. Mas ele pode ser cortês e educado. Um personagem com carisma alto precisa se portar como tal se quer que essa habilidade seja destacada.
Precisa, por exemplo, ser amigável com os outros personagens. O carisma dele não está escrito em um placa, os PCs não sabem que aquele personagem tem um número alto em carisma. Ações como elogios simples (não cantadas), sorrisos e descrição de postura pode ser o bastante. O mestre também pode ajudar, dizendo que o jeito de andar, os ombros firmes ou até mesmo a voz de seu personagem é agradável de se observar ou ouvir.
Um bardo com carisma alto pode escolher tocar para o grupo. Mesmo que todos estejam cansados dele dando cantadas em todos ao seu redor, não conseguem simplesmente ignorar a boa música dele. Um paladino com carisma alto pode dar um discurso antes de uma batalha. Outros personagens podem estar cansados de sua bondade tola, mas ouvirão o discurso e sentirão seus efeitos.
É claro, se o bardo parar de ser um galanteador e o paladino parar de ser o bonzinho. Muitas vezes, essas características fazem com que eles não sejam gostados pelo resto do grupo. Mas não é necessário de desfazer delas, se você não quiser. O carisma é ingrato, e ele não vai influenciar diretamente seus aliados. A sua interpretação do seu carisma que vai.
Muitas vezes, personagens simplesmente serão ranzinzas com pessoas alegres demais, e não tem nada que o seu personagem e seu carisma farão para mudar isso. Mas não ser abandonado pelo resto da party para morrer já é um bom motivo para não irritar todos ao mesmo tempo. Não deixe que seu personagem seja definido pelo carisma ou pelas ações de carisma. Defina seu personagem pelo o que ele acredita e pelo o que ele sente.
Quer saber mais sobre paladinos? Leia Origem das Classes: Paladino